Findado mais um ano e celebrado o começo de outro, depois dos brindes feitos e dos votos e as esperanças renovadas, eis que nos chega o Dia de Reis.
O Dia de Reis, segundo a tradição cristã, é o dia em que os Reis Magos – Gaspar, Melchior (ou Belchior) e Baltazar – chegaram a Belém a visitar o Menino, oferecendo-lhe Ouro, Incenso e Mirra simbolizando, respectivamente, a realeza, a divindade e a paixão de Cristo. Reza a lenda de que um dos Reis era negro e africano, outro branco e europeu e o terceiro moreno, sendo assírio ou persa, representando assim, a humanidade conhecida na época e a homenagem de todos os Reis ao novo Rei na Terra – o Menino Jesus. As lendas são muitas e chegam a divergir, assim como o significado dos presentes e dos próprios Reis. No entanto, apesar das acepções diversas do simbolismo deste dia, nos Açores a sua celebração é unânime, mantendo-se fiel ao longo dos anos.
Mesmo para quem não celebra este dia como o dia da chegada dos Reis Magos junto ao Menino, este não deixa de ser um dia lembrado, sendo o dia em que marca o fim dos festejos natalícios. São assim, poucas as casas em que não seja este o dia, por excelência, para desmontar presépios, apagar as luzes da árvore de Natal e guardar todos os arranjos e decorações que embelezaram a casa nesta quadra. Mas se poderíamos imaginar este desmontar e guardar dos enfeites envolto em alguma tristeza e até saudosismo da alegria desta quadra, a verdade é que o facto de corresponder ao Dia de Reis vem trazer precisamente o contrário.
Este dia é tradicionalmente comemorado com canções e com a alegria e a magia inerente ao dia em que três Reis Magos vindos de tão longe finalmente alcançaram Belém e puderam visitar o Menino Jesus. É assim, com essa mesma alegria – de quem recebe uma visita de tão longe – que se celebra este dia. Nos Açores a tradição ainda bem viva é a de se formarem “Grupos de Reis” – grupos de amigos que se juntam semanas antes e ensaiam cânticos alusivos aos Reis Magos e a este dia, acompanhados por instrumentos tradicionais, como a Viola da
Terra, Bandolim, Violão, Ferrinhos, entre outros. O próprio reunir do grupo, para os ensaios que antecedem a actuação, é já motivo de alegria e parte da festa do Dia de Reis, pois os ensaios são preenchidos com muita alegria e entusiasmo. Na noite anterior e no respectivo dia, 6 de Janeiro o “Grupo de Reis” percorre as casas da freguesia ou localidade a que pertence, cantando em todas as casas – personificando a alegria do Menino Jesus e seus pais ao receber a visita dos Reis vindos do Oriente e dos mesmos ao visitá-lo. Estes grupos são esperados com grande expectativa pela família, ao chegarem actuam, sendo depois ‘brindados’ com as tradicionais iguarias e licores da época. Em algumas ilhas grupos de diferentes localidades juntam-se na noite do dia 6 e actuam juntos, proporcionando uma noite de convívio na comunidade.
Em Portugal Continental é tradicional comer-se o Bolo Rei, ditando a tradição que quem comer a fatia do bolo que contiver a fava (previamente colocada a quando da cozedura) comprará o Bolo Rei do próximo ano.
E é assim, no Dia de Reis e envoltos na alegria que nos trouxe esta época que lhe dizemos até para o ano e fazemos o propósito de perpetuar o amor e a paz por ela trazidos por mais um ano.