Páscoa nos Açores

Pascoa nos Azores - Easter in the AzoresPáscoa nos Açores – Easter in the Azores.

Em todo o país na quadra da Páscoa vivem-se grandes e remotas tradições. Nos Açores, por estes dias, o anúncio da Semana Santa parece ser dado pelo crepitar dos fornos de lenha que se começam a fazer ouvir e dos quais saem brilhantes e fofos folares que rendem qualquer um ao seu sabor.

Os folares são um pão doce, cuja massa é amarelada e muito fofa, tendo um ou dois ovos no seu interior, ou amêndoas (nos Açores). Os ovos simbolizam a vida e a fartura, Easter in the Azores - Maria Oliveiranuma quadra na qual se celebra a própria vida e a renovação. Estes representariam também a esperança por prósperas colheitas – numa época em que os Açores possuíam o seu próprio celeiro Atlântico’ e dependiam das suas colheitas. Nessa altura e por esta quadra as famílias dirigiam-se ao celeiro, onde guardavam o trigo e o centeio, para apartar o moio, destinando uma parte à confeção dos folares e a outra reservada para ser usada ao longo do ano, especialmente pela época do Espírito Santo.

As festividades da Páscoa são sobretudo pautadas pelas celebrações eucarísticas às quais se alia o convívio e a reunião familiar. Entre elas destacamos a quinta-feira na qual se celebra a ‘Ceia Grande’ – segundo a tradição católica, a última ceia de Jesus Cristo com os apóstolos. Esta é ‘recriada’ em muitos lares, na noite de quinta-feira, juntando-se a família em volta da mesa, celebrando juntos e compartindo Pascoa nos Azores - Folaresuma bem guarnecida ceia. No dia seguinte, ‘Sexta-Feira Santa’ é dia de jejum, em respeito ao dia em que Jesus Cristo foi crucificado e ainda respeitado por muitas pessoas. Há também a Via Sacra – caminho que terá feito Jesus Cristo até ao lugar da crucificação – sendo mesmo feita a encenação desse momento em alguns locais.

É também nesta sexta-feira, ou então no sábado, o dia eleito em muitas casas para se fazerem os folares. No Sábado Aleluia há a celebração da ressurreição, que será realmente celebrada no dia seguinte. No Domingo de Páscoa é então dia de celebrar a ressurreição e a vida, a família junta-se novamente e saboreiam-se pratos regionais: alcatra, torresmos, inhame, entre outros, e claro, as amêndoas (tradicionais por parecerem ovos pequeninos) ganhas no jogo do ‘Balamento’! Quanto às crianças estas anseiam, não tanto pelos folares, Easter in the Azoresmas sim, pelos vistosos e coloridos ovos de chocolate, numa versão já modernizada dos sabores da Páscoa.

No final do dia já se fazem contas para ver quando vai calhar o Domingo do Espírito Santo, pois para a semana já entramos, nesta sim tão açoriana tradição – as Festas do Divino Espirito Santo.

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A Quaresma nos Açores

Após a roda-viva do Carnaval, encontramo-nos no tempo da Quaresma. Nos Açores, com o passar do tempo, a prática de algumas das tradições foi-se desvanecendo, mas na memória ainda as encontramos a todas bem vivas.

A Quaresma nos Açores representa um tempo de reflexão, penitência e sacrifícios. Um dos principais reflexos destes propósitos está no tipo de alimentação adoptada. Na ‘Quarta-feira de Cinzas’, primeiro dia de Quaresma, é feita renúncia à carne, prolongando-se depois a cada sexta-feira até à Páscoa. Desta forma, a base das refeições, sobretudo em outros tempos, passava a ser o peixe, tortas de erva do calhau, cebola e salsa, as lapas, o polvo, ovos, queijo e sopa. Havendo também quem estabelecesse não comer carne durante toda a Quaresma.

Apesar da época ser essencialmente de sacrifício e restrições, por cá não perde a sua graça, trazida esta por um jogo bem tradicional: o balamento. Trata-se de um jogo muito simples (de origem, possivelmente, brasileira e não encontrado em Portugal continental), jogado a pares e que consiste em dizer ‘balamento’ ao adversário quando o vê pela primeira vez em cada dia. Quem chegar ao fim, normalmente ‘Sexta-feira Santa’ ou ‘Sábado Aleluia’, com mais balamentos dados ganha, recebendo do adversário um prémio: o balamento.  Segundo a tradição, este prémio/balamento será amêndoas, IMG_amendoasmas pode ser outro doce conforme o acordado, e é entregue no dia de Páscoa e repartido com os demais.

Hoje o jogo limita-se a crianças e jovens, mas ainda tenho na memória as histórias da minha avó (de como rasgou o vestido ao esconder-se para dar o balamento…), prova do entusiasmo que envolvia este jogo, na altura jogado por miúdos e graúdos, sendo os últimos os mais empolgados. O acirramento era tal que se engendravam artimanhas, a ponto de se disfarçarem para não serem reconhecidos ou passarem o dia a esconder-se do adversário, para o surpreender e dar o balamento!

Falar de Quaresma nos Açores é falar dos Romeiros, principalmente em SãoMaria Oliveira - Learn Portuguese Miguel, onde é uma das tradições mais vivas e sentidas. Estes Romeiros são peregrinos que todos os anos saem à rua ao longo destas cinco semanas para reafirmar a sua fé e a agradecer a Deus. Esta tradição remonta ao século XVI, quando zonas de São Miguel foram sacudidas por violentos tremores de terra, seguindo-se uma erupção vulcânica, à qual, numa população de 4500 pessoas, apenas sobreviveram 500.   Desde então há registos de todos os anos homens percorrem a pé as estradas à volta da ilha orando e cantando em voz alta. Os grupos compõem-se somente por homens, desde jovens a idosos, que durante uma semana caminham, levando consigo apenas um saco com os bens essenciais, um bordão, um lenço de lã e um xaile. Pernoitam em casa de pessoas que se oferecem para acolher os Romeiros e vão parando nas igrejas e ermidas que lhes surgem no caminho, chegando no 8º dia ao ponto de onde partiram.

Todavia, se a Quaresma tem o poder de acalmar o temperamento dos Açorianos, não tarda em chegar a Páscoa e com ela voltamos ao trabalho. Isto é, à cozinha a misturar ovos, açúcar, manteiga e farinha que, depois de amassados e cozidos, resultarão em lindos e brilhantes folares!

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Dia de Reis

Findado mais um ano e celebrado o começo de outro, depois dos brindes feitos e dos votos e as esperanças renovadas, eis que nos chega o Dia de Reis.

Dia de Reis - Learn to Speak PortugueseO Dia de Reis, segundo a tradição cristã, é o dia em que os Reis Magos – Gaspar, Melchior (ou Belchior) e Baltazar – chegaram a Belém a visitar o Menino, oferecendo-lhe Ouro, Incenso e Mirra simbolizando, respectivamente, a realeza, a divindade e a paixão de Cristo. Reza a lenda de que um dos Reis era negro e africano, outro branco e europeu e o terceiro moreno, sendo assírio ou persa, representando assim, a humanidade conhecida na época e a homenagem de todos os Reis ao novo Rei na Terra – o Menino Jesus. As lendas são muitas e chegam a divergir, assim como o significado dos presentes e dos próprios Reis. No entanto, apesar das acepções diversas do simbolismo deste dia, nos Açores a sua celebração é unânime, mantendo-se fiel ao longo dos anos.

Mesmo para quem não celebra este dia como o dia da chegada dos Reis Magos junto ao Menino, este não deixa de ser um dia lembrado, sendo o dia em que marca o fim dos festejos natalícios. São assim, poucas as casas em que não seja este o dia, por excelência, para desmontar presépios, apagar as luzes da árvore de Natal e guardar todos os arranjos e decorações que embelezaram a casa nesta quadra. Mas se poderíamos imaginar este desmontar e guardar dos enfeites envolto em alguma tristeza e até saudosismo da alegria desta quadra, a verdade é que o facto de corresponder ao Dia de Reis vem trazer precisamente o contrário.

Este dia é tradicionalmente comemorado com canções e com a alegria e a magia inerente ao dia em que três Reis Magos vindos de tão longe finalmente alcançaram Belém e puderam visitar o Menino Jesus. É assim, com essa mesma alegria – de quem recebe uma visita de tão longe – que se celebra este dia. Nos Açores a tradição ainda bem viva é a de se formarem “Grupos de Reis” – grupos de amigos que se juntam semanas antes e ensaiam cânticos alusivos aos Reis Magos e a este dia, acompanhados por instrumentos tradicionais, como a Viola da

Dia de Reis - Learn Portuguese

Actuação do Grupo de Reis do Grupo Etnográfico da Beira

Terra, Bandolim, Violão, Ferrinhos, entre outros. O próprio reunir do grupo, para os ensaios que antecedem a actuação, é já motivo de alegria e parte da festa do Dia de Reis, pois os ensaios são preenchidos com muita alegria e entusiasmo. Na noite anterior e no respectivo dia, 6 de Janeiro o “Grupo de Reis” percorre as casas da freguesia ou localidade a que pertence, cantando em todas as casas – personificando a alegria do Menino Jesus e seus pais ao receber a visita dos Reis vindos do Oriente e dos mesmos ao visitá-lo. Estes grupos são esperados com grande expectativa pela família, ao chegarem actuam, sendo depois ‘brindados’ com as tradicionais iguarias e licores da época. Em algumas ilhas grupos de diferentes localidades juntam-se na noite do dia 6 e actuam juntos, proporcionando uma noite de convívio na comunidade.

Em Portugal Continental é tradicional comer-se o Bolo Rei, ditando a tradição que quem comer a fatia do bolo que contiver a fava (previamente colocada a quando da cozedura) comprará o Bolo Rei do próximo ano.

E é assim, no Dia de Reis e envoltos na alegria que nos trouxe esta época que lhe dizemos até para o ano e fazemos o propósito de perpetuar o amor e a paz por ela trazidos por mais um ano.

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